Crítica | Being Funny in a Foreign Language - The 1975

Tudo que precisávamos ouvir.


Majoritariamente em sua história como líder da banda, Matt Healy sempre foi mais inclinado a usar a ironia como forma de escapismo para falar de seus sentimentos do que deixar eles falarem por si.


4 anos atrás algo mudou. Em A Brief Inquiry Into Online Relashioships, Healy, usando a faixa Sincerity is Scary como uma forma de denúncia aos mecanismos de defesa do ser humano moderno, criticava essa tendência de usar a ironia como método de fuga em qualquer situação de confronto pessoal ou amoroso, numa espécie de autocrítica. O que há de tão complicado em ser sincero, afinal?

Hoje, em 2022, o ano da tecnologia (me perdoem, foi a melhor referência que encontrei), The 1975 dá um passo para trás tematicamente falando. As críticas ao pós-modernismo e seus reflexos prejudiciais na maneira com que o ser humano age, usado como tópico principal nos últimos trabalhos da banda, aqui chega no início da festa e vai embora antes do parabéns. Dessa vez Matt Healy não quer achar metáforas pra explicar o quão difícil é se relacionar na era digital, tampouco falar sobre drogas, sexo ou o niilismo de praxe. Não quer falar sobre sinceridade mas sim ser sincero da forma mais sucinta e direta possível - neste caso, falando sobre amor.

Se fosse roteirizado, BFIAFL seria a fase da vida que acontece alguns anos após o final de filmes Coming of Age - Lady Bird, Quase 18, As vantagens de ser Invisível - ou a partir da cena final de Boyhood (o Coming of Age dos Coming of Ages), nos dizendo de alguma forma que envelhecer é bom e simplifica a maioria das coisas pelas quais sofremos hoje. Por consequência, musicalmente falando, o New Wave como ingrediente principal de seus trabalhos já não sacia mais à banda de Pop Rock Alternativo como já fez e elementos de Country e Folk (Wintering e When We Are Together) começam a dar as caras repetidamente durante os 40 minutos de LP (predominantemente na segunda metade).

É sob esse pretexto que o grupo demonstra ambição e experimentalismo dentro do clichê romântico despretensioso que resume o álbum. Eles nunca tinham feito uma sequência de músicas que fugisse tanto da personalidade mor da banda: Aquele charme prepotente se achando melhor do que de fato é. E não que eles não sejam extraordinários mesmo carregando essa arrogância - eu de fato acredito que são - mas por muitas vezes pareciam como um adolescente em crise que, em meio a seus lapsos de brilhantismo se considerava um gênio, fantasiando sobre o futuro ao invés de viver o presente e pensando em agradar os outros mais do que a si mesmo. Aqui não existe ego, arrogância, cinismo e (quase) não há sarcasmo e ironia.


Oh, I don’t care if you’re insincere
Just tell me what I wanna hear
You know where to find me
The place where we lived all these years, oh
And tell me you love me
That’s all that I need to hear
— All i need to hear, The 1975

Em All I Need To Hear a crueza da performance de Matt Healy é espantosa. É sobre satisfação pessoal aqui e agora: Ouvir um eu te amo parece ter um efeito tão necessário e poderoso nele quanto o uso de drogas. Durante a faixa os instrumentos expandem em direção ao infinito e a pontualidade com que eles vem e vão na mix é tão certeira e natural que parece ser aquele tipo de coisa que só acontece uma vez a cada centenas de anos e você só é grato por poder presenciar. No refrão, em um momento quase de abstinência, ele suplica por um eu te amo, ainda que seja insincero, como se precisasse ouvir isso para poder voltar a respirar.

About You é o ponto mais alto que eles poderiam pensar em alcançar no álbum e uma das melhores música da história da banda, na minha opinião. É cheio de referências (soa como With or Without You, do U2), ao mesmo tempo que parece uma continuação de um de seus maiores sucessos (Robbers) e o maior feito da coisa está na forma que tudo foi juntado para deixar claro que essa é uma faixa do 1975. O arranjo orquestral e sombrio - todo administrado por Nick Cave - contrasta com uma das letras mais lindas, puras e delicadas do repertório deles e o refrão é literalmente uma explosão comedida de todos os sentimentos reprimidos que um ser humano pode carregar. Além de tudo, a sensível e elegante participação de Carly Holt na ponte é extremamente bem vinda em meio a densidade da música .

Além das duas preciosidades mencionadas, o álbum possui outros pontos altíssimos. I’m In Love You é o primo de Sugar do Maroon 5, só que legal, bonito, que venceu na vida e que de fato merece tocar em todos os casamentos que serão realizados entre 2022 e 2030. Looking For Somebody (To Love) é um episódio de Black Mirror em forma de música. Sob a roupagem de um Pop oitentista, o vigor e animosidade de sua produção disfarçam uma obscura letra sobre violência e masculinidade tóxica, o que cria certa culpa e repulsa por ser tão viciante.

Por fim, Part Of The Band, que é a faixa mais independente do álbum inteiro, cria um contraste interessante, musicalmente e liricamente falando. Dominada pelos instrumentos de corda, é sarcástica e mais reflexiva do que a maioria das coisas que ouvimos. Além disso é bastante egocentrista pro padrão apresentado durante o projeto. É, para Matt Healy, como tirar a cabeça de baixo da água para respirar antes de se inundar novamente em letras sobre amor e melodias graciosas. É uma música quase sinônimo de sua personalidade - autocentrada, engraçada e inteligente - que ele não poderia abandonar nem em prol do maior amor do mundo. Não poderíamos pedir algo diferente, caso contrário não seria sincero de sua parte, coisa que agora ele parece completamente acostumado em ser.

Am I ironically woke? The butt of my joke? Or am I just some post-coke, average, skinny bloke, Calling his ego imagination?

8,7

Melhores faixas: The 1975, Looking for Somebody (To Love), Part of The Band, I’m In Love With You, All I need To Hear, Wintering, About You, When We Are Together.

Piores Faixas: Caroline (genérica demais pro meu gosto)

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