Crítica | Glee (1ª Temporada)

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Após completar onze anos de seu lançamento, “Glee” ainda é um marco entre os apaixonados por séries adolescentes e musicais. Comemorando o início dessa jornada que se deu no dia 19 de maio de 2009, resolvemos falar sobre as seis temporadas da série e ainda preparar para o possível reboot que o diretor Ryan Murph mencionou em sua rede social. As críticas, por mais que com algumas análises técnicas, não têm interesse de desvalorizar o show que marcou a vida de tantas pessoas. São, sim, para celebrar a sua importância na TV mundial e relembrar algumas performances memoráveis de cada temporada.

As críticas das outras temporadas podem ser lidas aqui: 2ª temporada, 3ª temporada, 4ª temporada, 5ª temporada, 6ª temporada.


EM SUA PRIMEIRA TEMPORADA, GLEE MARCA COM UMA IDENTIDADE CÔMICA MEMORÁVEL, ROTEIRO ELABORADO E MÚSICAS QUE MARCARAM UMA GERAÇÃO.

Possivelmente Glee é um dos projetos mais ousados do grupo Fox. Em 2009 os musicais estavam em uma lenta crescente. Após a era de ouro de Hollywood, quando musicais eram celebrados e apreciados, o gênero cinematográfico foi desvalorizado e pouco celebrado nas grandes premiações. Ganharam força nos palcos do teatro, enquanto no cinema algumas grandes produções não tinham potência suficiente para reacender a paixão da geração de Grease, Noviça Rebelde e Mary Poppins. Em 2006, a Disney Channel lançou “High School Musical”, que se tornou febre mundial e gerou números imensos (muito maiores que suas outras tentativas, como “Cheetah Girls”) para a empresa conquistando um público infantil e adolescente. Em 2008, com a trilogia finalizada nos cinemas, ficou perceptível que existia um público que se encaixava em uma nova geração de fãs por musicais que não tinham muitas produções atuais.

Ryan Murph, por sua vez, tinha projetos imensos para a TV estadunidense, mas pouca força e relevância no mercado, e precisava fazer algo comercial e que desse certo. A Fox então resolveu investir e se arriscar em uma nova franquia adolescente musical. Foi assim que Glee se tornou uma febre. Em sua primeira temporada, uniu questões sociais, um humor ácido e músicas pop clássicas para que conseguisse conquistar vários públicos. Os pais, de uma hora para outra, viram seus filhos escutando suas amadas músicas de Diana Ross, Queen, Journey, Bonnie Tyler, e para os amantes dos musicais antigos, Les Miserables, The Wiz, Cabaret, O Mágico de Oz, Wicked e outros. Uma combinação perfeita com um elenco jovem desconhecido, mas muito talentoso, e um grande nome da comédia, Jane Lynch.


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Don’t Stop Believin’ - Journey

Já no primeiro episódio, Glee apresenta em uma performance emocionante de “Don’t Stop Believin’” da banda Journey, popular entre os mais velhos. É certamente uma música que remete à série e um marco da primeira temporada, que molda a temática principal de seu enredo: alcançar sonhos.


Por mais que Jane Lynch tenha sido um chamariz para o público apaixonado pela comédia, Glee emplacava em um projeto de grande custo e com convidados imensos, como Josh Groban, Olivia Newton-John, Idina Menzel, Neil Patrick Harris e Kristin Chenoweth. Além disso, os novos nomes da série conquistaram rapidamente os já apaixonados por musicais. Lea Michele, por exemplo, que interpreta a protagonista Rachel Berry, era um nome conhecido da Broadway pela sua atuação em “O Despertar da Primavera”.

Abordando assuntos que caminham entre ser um “perdedor” na escola, gravidez na adolescência, homofobia, TOC e deficiência física e psicológica, a primeira temporada é persistente no que se propõe. O episódio “Piloto” (1º episódio) molda a narrativa de sonhos, mesmo com algumas mudanças que tiveram que ser feitas uma vez que a série foi aprovada pela Fox. A personagem Sue Sylvester, interpretada por Jane Lynch, por exemplo, é visivelmente um arco não importante e mais uma participação especial de uma grande estrela, o que muda já a partir do 2º episódio demonstrando a importância que a personagem tem para a trama.

Seguindo um número comum de capítulos por temporada para o ano de lançamento, os 22 episódios são dinamizados com uma divisão do 1º episódio (Piloto) ao 13º episódio (Seletivas), e do 14º episódio (Olá) até o 22º (Jornada). A primeira metade focada na jornada do clube para a sua primeira competição, as Seletivas, e a segunda metade com o aprofundamento dos personagens coadjuvantes, como Artie, Mercedes, Kurt e Quinn.


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Don’t Rain On My Parade – Barbra Streisand

Não o primeiro, mas certamente um marco dentre todas as temporadas, o solo de Rachel Berry nas seletivas é inesquecível. Além da personagem já mostrar sua relação com a imagem da Barbra Streisand desde o início da série, é aqui que se torna visível a importância do mundo musical para ela – algo que se desenvolve mais na segunda metade da temporada.


Mesmo com episódios destoantes, como “Acafellas” (3º episódio) e “Sonhos” (19º episódio), a série consegue manter um ritmo bem parecido, sempre com um desenvolvimento de vários personagens e um caminhar bem preciso em cada um deles. É bem visível quando a temporada termina que o plot de cada um deles é fechado e pode reabrir continuando na mesma linha ou seguindo caminhos totalmente diferentes. Kurt, por exemplo, um dos personagens que encanta pela discussão sobre homofobia internalizada e pelo bullying escolar, tem seu papel desenvolvido de forma precisa ao ponto de entender a importância de sua família e a relação dele com cada um dos membros do clube.

Importante lembrar de episódios impecáveis como “Vitamina D” (Episódio 6), “O Poder de Madonna” (Episódio 15) e “Teatralidade” (Episódio 20) que mostram a dificuldade que era gravar uma série como Glee. É visível o tamanho esforço de se fazer uma série que demanda tanta coreografia, gravação das músicas e um roteiro longo com muito diálogo. É certamente um dos motivos pelos quais a série foi indicada a 20 Emmy’s em 2010 e ganhou 4 deles, além de ter ganho o prêmio principal das séries de comédia no Globo de Ouro de 2010.


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Anyway You Want It/ Lovin' Touchin' Squeezin' – Journey

Para finalizar a temporada com um mash-up, Glee faz uma apresentação impecável de duas músicas da banda Journey que concluem a jornada impecavelmente. Fica nítido o cuidado da produção de música, performance e roteiro quando se finaliza de forma tão encaixada com o início da temporada.


É indiscutível a relevância da primeira temporada de Glee e, principalmente, do marco pop que se tornou a série graças a tanto cuidado com a produção. Além disso, é com essa temporada e com a visibilidade da série que o gênero musical se concretiza verdadeiramente, e cria margem para novos lançamentos. Um público jovem se firma novamente como fãs e são apresentados a um mundo de musicais que estava distante demais da realidade de quase todos.

Em uma temporada com pouquíssimas falhas e momentos que influenciam em praticamente todas as demais, o início dessa jornada certamente dá um gostinho perfeito do que viria pela frente.

9.6

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