Mês do Orgulho | Top 10 Séries com Protagonismo LGBTQIA+

Historicamente marcado por causa da revolução de Stonewall, no dia 28 de junho de 1969, uma rebelião de resistência da comunidade LGBTQIA+ presente no bar de Manhattan, o mês de Junho é celebrado como o mês do orgulho. No Brasil, ainda vivemos em um cenário hostil para pessoas LGBTQIA+. O país segue no topo do ranking de países que mais matam pessoas desta comunidade e tem como presidente alguém que segura, arrogantemente, a bandeira da LGBTfobia. Por esses e outros motivos, durante o mês do orgulho, toda segunda e sexta o Outra Hora abordará sobre filmes, séries e música inseridos na cultura LGBTQIA+.

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Como começar a mudar uma perspectiva centrada na heteronormatividade? Gerações e gerações que cresceram na TV, no cinema e escutando narrativas heterossexuais precisam passar pelo processo de aprendizado. É se colocar no outro lado do quarto que ninguém nunca visitou, mas que sempre teve gente morando. Abrir essa porta é dar margem para criar novos horizontes, crescer sua visão, tirar um espaço de ignorância e abrir caminhos para quem está preso naquele espaço marginalizado. Por isso, é urgente começar a dar mais valor para narrativas LGBTQIA+, e, no caso de hoje, nas telas de casa.

Em um país em que se venera grandes produções estadunidenses como Game of Thrones, Breaking Bad, Friends, How I Met Your Mother entre tantas outras, falta espaço para séries protagonizadas pela comunidade LGBTQIA+, que tratam suas dores, conquistas, histórias e que documentam a perseguição histórica com esta população. E se lhe falta ideia por onde começar, é aqui que seguem algumas dicas. Um 10 Top de séries para se ver esse ano. (Aproveita que é mês do orgulho e já começa agora mesmo!)


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#10 | RuPaul’s Drag Race

Lançado em 2009, RuPaul, um dos maiores nomes do cenário drag nos anos 1990, cria um reality show que revoluciona a TV estadunidense. Pela primeira vez, temos um programa produzido, apresentado e protagonizado por homens cis gays e mulheres trans em uma introdução ao mundo da arte drag. Com uma das maiores audiências dos Estados Unidos, RuPaul não só começou a usar essa plataforma para mostrar em uma narrativa de reality as perseguições que a comunidade LGBTQIA+ sofre ao redor do mundo, como introduzir novos nomes artísticos para o show business do país.

Não é por nada que Shangela, Bob The Drag Queen, Valentina, Willam e outras grandes drag queens que passaram pela atração começaram a ter participações importantes em vários outros programas da TV estadunidense.


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#9 | Modern Family

A série vencedora de Globo de Ouro e Emmy Awards também começou em 2009 e foi finalizada no início de 2020. Em 11 temporadas, acompanhamos uma família dividida em 3 núcleos. Dentre eles, o do casal Mitchell e Cameron, que logo no piloto adotam uma criança vietnamita chamada Lily. O programa do canal de TV ABC é uma comédia tipicamente estadunidense sobre o modelo de família tradicional do país, até que usam de um canal imenso e de um modelo típico para realinhar com a população o que é realmente a noção do que não deve ser algo que se diz como tradição, e sim como preconceito.

Batendo recordes de audiência, e certamente um dos maiores programas da TV do século XXI, o núcleo de Cam e Mitchell desassossega a fórmula já fracassada de comédias cheias de ignorância no país.


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#8 | A Lenda de Korra

Continuação do bem-sucedido e aclamado “Avatar: A Lenda de Aang”, Korra conta a história da mestra dos quatro elementos em uma sociedade após a guerra contra a nação do fogo, abordada na primeira série. Korra não só discute a modernidade e a tecnologia, como aborda orientação sexual de forma espontânea e sem muito medo, principalmente considerando o público da animação.

Cheia de fan service para quem acompanhava Aang, um mundo bem mais explorado do que na primeira animação, posicionar a pessoa mais forte do universo como uma mulher negra e ainda tratar sobre orientação sexual em uma animação infanto-juvenil são passos que essa série tem para acrescentar e certamente marcar a vida dos jovens nerds.


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#7 | Euphoria

A série protagonizada pela jovem Zendaya, conta a história de Rue, uma garota jovem negra com vícios, distúrbios e perseguições sociais que a fazem definhar cada vez mais meio à sua tenra vida.  Ao se apaixonar pela mais nova aluna do colégio, Jules, sua vida fica melhor, ou mais confusa, ou mais intensa, ou... Rue não tem muito ideia. Ácida, direta e forte, “Euphoria” foi um sucesso de lançamento em 2019 pela HBO e é uma ótima dica dramática absolutamente bem construída e dirigida.

A fotografia é impecável, a trilha sonora é um show à parte, as atuações, comoventes, e o roteiro serve questões pouco abordadas desde, possivelmente, as duas séries britânicas “Skins” e “My Mad Fat Diary”.


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#6 | TransMissão

A série documental organizada e apresentada por Linn da Quebrada e Jup do Bairro é certamente um programa imperdível na TV brasileira. Disponível no Canal Brasil e nas plataformas digitais da Globosat, Linn e Jup têm entrevistas das mais diversas possíveis, mas todas com algum cunho social, político e artístico. É um local perfeito para se ver duas travestis conversando com pessoas de dentro ou fora da comunidade LGBTQIA+ sobre questões pertinentes em um país comandado por Bolsonaro.

A premiada Linn da Quebrada ganhou mais visibilidade após ganhar um dos prêmios mais importantes do cenário do cinema LGBTQIA+, o Teddy da Berlinale com seu filme “Bixa Travesty”, no qual constrói, cita e demonstra a sua relação com o programa “TransMissão”. Episódios curtos, densos e absolutamente relevantes.


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#5 | Gaycation

Apresentada por Ellen Page e Ian Daniel, “Gaycation” é outra série documental de tirar do sofá. Em 2 temporadas, totalizando 10 episódios, os dois viajam por 7 países para demonstrar o cenário de LGBTfobia em diferentes lugares do mundo. Japão, Jamaica, Estados Unidos, Ucrânia, França e, em um dos episódios mais chocantes e revoltantes, o Brasil. Os dois conseguiram formar uma série que informa mais do que a mídia que corrobora com muita das agressões e perseguições que a comunidade LGBTQIA+ sofre nesses países, principalmente no Brasil.

Em dois episódios especiais, os dois vão a boate Pulse logo após o atentado de ódio de junho de 2016 e adentram mais na cultura de LGBTfobia dos Estados Unidos. É informativo, muito bem narrado e apresentado e com muita simpatia de duas pessoas muito talentosas já inseridos no mundo de Hollywood como artistas assumidamente LGBT.


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#4 | Orange is the New Black

Certamente um dos marcos que revolucionou a Netflix na indústria dos streamings, “Orange is the New Black” causou alvoroço em 2013 ao ser lançado já com muito apoio de um público LGBTQIA+ e negro. A série baseada no livro homônimo, escrito por Piper Kerman e publicado pela editora Intrínseca no Brasil, é uma autobiografia dramatizada da autora, presa em uma cadeia feminina após se envolver com esquemas de tráfico com sua ex-namorada. Hilariante com a simpatia dos personagens, atrizes incríveis, roteiro revelador e diferente do que se era visto na época de seu lançamento, “Orange is the New Black” é uma das maiores e mais bem desenvolvidas produções da empresa.

Com personagens lésbicas, bissexuais, trans, para além de inúmeras etnias, religiões e nacionalidades, a série é ampla e aborda muito bem vários assuntos urgentes, em especial o cárcere privatizado nos Estados Unidos.


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#3 | When We Rise

A minissérie lançada em 2017 é baseada no livro homônimo de Cleve Jones, que conta a história do movimento LGBTQIA+ nos Estados Unidos, em especial, sob o olhar do ativista Cleve desde que fugiu para São Francisco. Em 8 partes, “When We Rise” aborda desde as consequências da Revolução de Stonewall nos jovens da comunidade país afora, à criação da bandeira, crise da AIDS e a legalização do casamento homoafetivo nos EUA.

Criada por Dustin Lance Black, ativista e roteirista de “Milk: A Voz da Igualdade” (2008), a minissérie é uma aula da história da comunidade LGBTQIA+ sob a ótica estadunidense, que, em si, tem uma história complexa e revolucionária no século XX. Além disso, a série indaga e critica uma geração alienada e que paralisa o movimento no tempo, sem fazer reais movimentações para lutar contra a LGBTfobia.


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#2 | Pose

Já abordada em duas críticas aqui no Outra Hora, “Pose” é a revolução sendo feita neste exato momento. Com duas temporadas, o diretor Ryan Murph escreveu a história da comunidade LGBTQIA+ na visão das mulheres trans. Elas são as protagonistas e fazem da série a primeira da história da TV estadunidense com elenco predominantemente trans. Blanca, Elektra, Angel e outras grandes personagens mostram a história dos bailes de Nova York, icônicos e tão celebrados em várias outras séries e filmes.

Em “Pose” não basta somente o drama de se contar a transfobia e a homofobia. Não é somente uma série; é um retrato e um documento de algo que a comunidade viveu e ainda repercute até hoje. Os direitos hoje vigentes para os LGBTQIA+ foram conquistados graças a eles e elas. A obra é uma prova de gratidão e de posicionamento para o que pouco se movimenta hoje dentro da comunidade. É belo, triste e muito forte. Certamente, uma das produções mais imperdíveis dentro do universo de séries com o protagonismo LGBT.

Leia também a crítica da 1ª Temporada de Pose

Leia também a crítica da 2ª Temporada de Pose


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#1 | Sense8

É em “Sense8” que se torna possível tratar, da forma mais cinematograficamente intensa, sobre empatia. É uma série sobre humanidade e sobre se colocar no lugar do outro, transcender-se além da visão egoísta que carregamos no século XXI. É sobre amar diferentemente cada um dos seus diferentes, e o quão mais diferentes nos tornamos com isso. “Sense8” é sobre o que a humanidade devia ser, e o que ela não é - pelo menos, o que sua maioria não é. São 8 personagens que definem o que temos que buscar sermos. É um chamado de mudança social.

Com bissexuais, cis e trans, a produção das irmãs Wachowski é o projeto mais ousado da sua carreira e da Netflix. Em 2 temporadas e 1 filme de finalização da história, “Sense8” dá outra perspectiva sobre o olhar das séries que tratam sobre diversidade sexual, empatia, humanidade e sociedade, e amplia a visão de um público que clama por direitos humanos. É vivo perceber as metáforas como o dia a dia brasileiro, de perseguições, apagamento e medo de um sistema que não quer uma comunidade unida para fazer revolução. Não poderia ser outro o primeiro lugar.


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