Devendra Banhart ao vivo em porto alegre, 11.04.24

A vida passa, os afazeres ficam mais complexos e tomam mais o nosso tempo; o desgaste das nossas colunas nos impedem de ficar nas primeiras fileiras dançando, cantando e pulando como fazíamos antigamente, e claro, com a certeza que amanhã começa tudo de novo. Acordar, trabalhar, se exercitar com uma sensação hipocondríaca; e repete.

Tomei o caminho das escadas a direita do placo, com toda a convicção do mundo, eu não tenho mais idade pra isso. O público do artista, antes jovem, agora mais amadurecido timidamente se formava na frente do palco, cerca de 20 minutos antes do showtime. A atmosfera de um espetáculo é criada já no pré-show, é um clichê, um fato, certo? Estamos concordando aqui? Ótimo. As musicas latinas e o murmurinho blasé do publico lentamente dão lugar ao silêncio que antecede a entrada do nosso estadunidense decolonial favorito.

“Flying Wig” é um álbum muito, mas – muito – mais lento do que qualquer coisa que Devendra se propôs a fazer antes: atmosférico, etéreo, misterioso. Musicas longas, refrões que são praticamente mantras, se propõem a deixar a frase no fundo da cabeça em cima de baterias marcadas e linhas de baixo suaves. “Twin” deu o ponta pé inicial da mescla esotérica entre público e artista, e, em sincronia perfeita, Devendra entrou tão tímido quanto as caras conhecidas de outros carnavais, que assim como ele, amadureceram, mudaram, não estão mais em 2013.

Entre hits atemporais como “Mi Negrita” ou “Santa Maria de Feira”, haviam imersões musicais em um céu de sintetizadores e reverbs, que é o caso de “Sight Seer” e “Fig in Leather”. A sincronia perfeita, citada antes, durou do inicio tímido, ao momento de quebrar o gelo pedindo sugestões de música para a plateia no meio, e ao caótico final com covers de Madonna e Caetano Veloso.

Devendra foi se soltando, se aquecendo. Cheguei a citar que essa foi a primeira noite de frio do ano? Pois é, foi a primeira noite de frio em Porto Alegre em 2024. Frio e chuva, o que deixa a atmosfera do show ainda mais intensa, e Porto Alegre muito mais ela mesma.

Depois de duas músicas de bis. O público, já alterado, devidamente aquecido e com a adrenalina de uma apresentação bíblica de “Sea Horse”, clamava por “Carmencita”, que foi pedida desde a sessão de sugestões no meio do show. As luzes já estavam acesas no Opinião e a música ambiente já estava tocando, o que fez parte do público ir embora. Alguns minutos depois a mão esquerda de Devendra acena positivamente ao pedido popular, e a banda volta mais uma vez para cantar um clássico da minha juventude.

A juventude tá ficando velha. O bom gosto não envelhece.

“Love’s like falling without ever landing”

“Love Song”, Devendra Banhart (2019)

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