Os 25 Melhores Álbuns de 2023

Definitivamente, um bom ano para o hip-hop e o rock, ainda que extremamente variado. 2023 apresentou novos destaques na indústria e trouxe grandes realizações de alguns artistas já consolidados. O que não falta são novos timbres, ideias e conceitos muito bem amarrados que permitem uma audição em profundidade.

Confira agora, antes tarde do que nunca, nossos álbuns favoritos de 2023.


25

Yaeji

“With a Hammer”

É impressionante o efeito que a vanguarda tem sobre novos artistas. Alguns anos após lançamentos marcantes de Charli XCX, Sophie, Spellling e Polachek, para citar alguns nomes, começam a aparecer novos grandes trabalhos em searas semelhantes da música: yeule, Rina Sawayama, Yaeji. “With a Hammer” é um debut potente de uma artista que entende o que quer evocar, e usa de sua autenticidade o tempo todo como recurso artístico.

Bernardo Liz


24

Sain

“KTT Zoo”

Na linha de frente dos raros adeptos do groove boom bap, Sain se entrega de corpo e alma à missão de resgatar a essência do hip hop em seu novo álbum. A produção combina os scratches característicos do subgênero nova-iorquino com o ritmo das experiências vividas pelo artista no bairro do Catete, localizado no coração do Rio de Janeiro.

Com uma timbragem pesada na bateria eletrônica e o uso inteligente do sampler, o rapper – que agora assume pessoalmente a produção das canções – traz uma sequência de reflexões sobre sua relação com o rap: do sustento financeiro ao respeito pela arte que o mantém inteiro. 

Sain divide algumas faixas com convidados especiais que vão de Nochica, Felp 22 e Febem até Erik Scratch, Douglas Lemos, Lord Apex e Marcelo D2, que aparece aqui em um monólogo sobre a relação do artista principal com as ruas e a música – herança passada de pai para filho. 

Caio Profiro


23

Lil Yatchy

“Let’s Start Here”

É legal ver como novas ideias musicais criam novos músicos. "Lets Start Here" é um divisor de águas para Lil Yatchy, que mostra aqui uma ousadia sonora combinada a sua personalidade única. Resultado: Yachty vai além do rap e explora sons psicodélicos, usando sua voz para criar uma experiência musical única, divertida e, em certos momentos, até mesmo introspectiva.

Pietro Stefani


22

Yves Tumor

Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume

Yves Tumor entrega mais uma obra de arte impressionante. Misturando rock gótico e indie-pop com uma vibração experimental pulsante, “Praise a Lord” é sobre quebrar as regras e fazer barulho. Vocais muito fortes e narrativas cativantes, combinadas a produção excelente, tornam o disco não é apenas engajante de ouvir, mas também intimam o ouvinte a integrar o universo criado por Yves. Contagiante, provocando divertidamente o absurdo sem nunca perder a subversão inteligente que convida todos a se juntarem à sua arte visceral e teatral.

Pietro Stefani


21

Sampha

“Lahai”

"Lahai” de Sampha, lançado após seis anos de seu aclamado álbum de estreia “Process", representa uma evolução artística notável que combina elementos eletrônicos com a essência característica do R&B de maneira mais profunda e elaborada. Seu novo trabalho não apenas demonstra a maturidade e o perfeccionismo de Sampha, mas também reflete experiências pessoais significativas, incluindo a paternidade e o período da pandemia. “Lahai” vai de ritmos eletrônicos até momentos de contemplação poética, destacando sua habilidade única de mesclar emoções intensas com inovação musical. Através das letras e composições, Sampha explora temas como o tempo, espiritualidade e relações humanas, resultando em um álbum que preserva sua beleza característica ao mesmo tempo em que se aventura por novos caminhos musicais.

Pietro Stefani


20

Olivia Rodrigo

“Guts”

O charme de Guts, que aqui com certeza não faz alusão ao personagem principal do anime Berserk, é justamente essa coragem de abraçar com irreverência a cafonice as contradições dessa fase tão conturbada, consequentemente dando vida ao que tranquilamente pode ser considerado o representante musical de filmes como 10 coisas que odeio em você, Mean Girls - que possui forte influência no álbum - e Lady Bird. Não são revolucionários, tampouco parecem almejar ter um propósito fora o de sobreviver ao tempo (como todo adolescente). São relatos clichês e bregas, que já vimos um milhão de vezes (e que a maioria de nós já viveu coisa parecida), porém não menos empolgantes e divertidos, e que - por bem ou por mal novamente - ecoam por muitos e muitos anos.

Em Guts, Olivia Rodrigo se torna a garota que ela jurou odiar em Sour. Vai de completa coadjuvante inofensiva a Anti-herói orgulhosa. Abraçada no Pop-punk, All American Bitch é uma história de contradições. Aqui, às 22 horas, depois de tomar o primeiro gole de confiança, ela afirma ser a luz na escuridão (And I make light of the darkness, I've got sun in my motherfuckin' pocket, best believe, Yeah, you know me), porém o frenesi e as inseguranças inerentes a vida que leva ganham força até culminarem na transição engraçadíssima da Ponte para o Outro. A frenética guitarra colide com o calmo dedilhado de violão, e Olivia vai de Berros de desespero a Miss Americana em questão de segundos.

Pietro Stefani


5

19

100 gecs

“10000 gecs”

1000000000 gecs não seriam suficientes para dar conta da energia que a dupla imprime a cada trabalho deles. Seja pedindo por One Million Dollars ou se divertindo no ska abstratista de Doritos & Fritos, é impossível não se divertir com os gecs. O único requisito é se abrir e se jogar em sua esquisitice, misturando gêneros, explorando timbres, indo a 100 por hora para todo lado. Uma vez que você aceita que está numa montanha-russa, ela se torna a melhor atração do parque.

Bernardo Liz


18

the lemon twigs

“everything harmony”

“Everything Harmony” é um acerto na discografia dos irmãos D’Addario, misturando rock old-school com seu próprio frescor contemporâneo. Um disco que pode fazer músicas que parecem pertencer a qualquer época, se manterem autênticas, originais e criativas. Das cordas, aos sopros, às performances assertivas e coesão das ideias, “Everything Harmony” tem tudo a ver com misturar sensibilidade e poder, e faz isso tão bem que pode fazer você sentir todos os tipos de emoções com suas faixas.

Pietro Stefani


17

grouptherapy

“I was Mature for My Age but i was still a child”

Um tour de force no mundo do hip-hop alternativo, abraçando uma amplitude de estilos e emoções que o tornam único. Aqui, a banda explora temas de crescimento precoce e a luta para manter a inocência na juventude, algo que ressoa profundamente com quem teve que amadurecer rápido demais. Musicalmente, o álbum é uma mistura eclética que vai do rap ao rock, passando por momentos de pura eletrônica, mostrando a diversidade e a capacidade do grupo em cruzar fronteiras musicais. Toda essa mistura, às vezes bela, e às vezes caótica, é a estética perfeita para ilustrar a confusão que passar por um crescimento turbulento pode ser.

Pietro Stefani


16

jessie ware

“that! feels good!”

Jessie Ware é uma profissional da música. Competente, dedicada e sempre evoluindo. Contudo, mesmo profissionais dedicados tem suas preferências e talentos proeminentes. Jessie encontrou o seu no disco/dance de “What’s Your Pleasure?” e continua a entregar essa receita incrível em “That! Feels Good!”. Mais uma seleta de faixas feitas para se esbaldar com uma taça na mão e flertar com os outros e consigo mesmo, no ato mais puro de sedução.

Bernardo Liz


15

boygenius

“the record”

Quando três dos maiores nomes da música atual decidiram se unir e lançar um EP fabuloso em 2018, o presente parecia tão grande que esperar uma continuidade do projeto parecia sonhar alto demais. Para nossa felicidade, o grupo não apenas seguiu, como lançou um dos melhores álbuns de 2023 com “the record”. Amizade é a fundação de um disco versátil, emocionalmente intenso e que convida o ouvinte a ouvir momentos confessionais, de honestidade completa, entre Lucy, Phoebe e Julien. Cada uma tem seu momento, e é uma alegria para os fãs saber que esse trio parece longe de parar, e mais longe ainda, de se afastar.

Pietro Stefani


14

JPEGMAFIA e DANNY Brown

“SCARING THE HOES”

O queue poderíamos esperar de diferente dessa união? A colaboração entre dois dos maiores expoentes do hip-hop experimental gera uma explosão musical do mais alto nível.

"Scaring the Hoes" revela JPEGMAFIA e Danny Brown em uma viagem vibrante e inovadora, mesmo para seus altos parâmetros. A lírica agressiva no melhor sentido e a produção audaciosa que mistura uma variedade de subgêneros, desafiam juntas as convenções do rap. A química entre os dois artistas brilha através da mistura de humor ácido e críticas sociais pontiagudas, em um disco que imediatamente pede uma continuação.

Pietro Stefani


13

KALI UCHIS

“Red Moon In Venus”

Há anos que Kali Uchis é um dos nomes mais empolgantes do R&B e, como é comum hoje, ela precisou uma música viralizada no TikTok em 2021 para que seu nome ficasse do tamanho do seu talento. “Red Moon in Venus”, que já é seu penúltimo álbum, transcende os temas do R&B em busca de respostas holísticas para as perguntas do desejo e do amor.

As músicas, por outro lado, abraçam o que tem de melhor no gênero que a cantora se filia, situando as músicas entre a inalcançável nostalgia de “Love between…” que desempenha suavidade saída de uma rádio dos anos 70; e o irresistível refrão de “Moonlight”.

João Francisco


12

geese

“3d country”

Enquanto métricas que apontam a ascendente do rock e do country nas paradas podem levantar uma ou outra dúvida, trabalhos como “3D Country” sanam qualquer questionamento sobre a validade dessa realidade. O último disco do Geese soa, literalmente, como música country em 3D: country no plano, rock na altura, e tudo que você quiser dando a profundidade.

Influências antigas são inseridas de forma elegante, e a verdade artística das composições torna tudo de uma atualidade intransigível. Pura energia. Perfeito para viajar de carro no sol.

Bernardo Liz


11

Billy Woods e Kenny Segal

“Maps”

A força de "Maps" está em sua abstração. Nas absorção das faixas como peças a serem reunidas, de forma linear ou não. Um disco abstrato que mergulha em temas de isolamento e reflexão pessoal. A produção de Kenny Segal é frequentemente descrita como "sublime", oferecendo um fundo sonoro limpo e expansivo que realça de forma brilhante os versos introspectivos e complexos de Woods. O álbum possui algumas das letras profundas de 2023, e entrega narrativas que capturam a sensação de estar perpetuamente em movimento, nunca totalmente presente em um lugar devido às constantes transições de vida​, como poucos.

Pietro Stefani


10

Anohni

“My back was a bridge for you to cross”

Anohni and the Johnsons trazem, mais uma vez, um álbum que se aproxima em muitos momentos, belamente, de uma peça musical. Profundidade emocional retratada com a sobriedade de uma fotografia que congela o tempo, é o que se encontra em “My Back Was a Bridge For You to Cross”. Um disco de camadas, camadas e camadas, onde cada audição nos aproxima mais da sensibilidade de Anohni e da montanha de significados que suas composições entregam.

Amanda Machado


9

ana frango elétrico

“me chama de gato que eu sou sua”

Nossa electric chicken favorita entrega mais um grande álbum. Menos explosivo que o aclamado “Little Electric Chicken Heart”, “Me Chama de Gato” é mais variado em tom e clima, mas executa cada uma de suas ideias com excelência, e muita classe.

Enquanto “Insista em Mim” é MPB de classe, romance fino, coberta de cordas e uma entrega vocal tocante; “Boy of Stranger Things” é uma das faixas mais divertidas da artista, daquelas feitas para se cantarolar do início ao fim, em qualquer nível de sobriedade — ou ausência dela.

Ana é uma força criativa na música atual, e é impossível não se entregar a sua chuva de ritmos.

Pietro Stefani


8

Feist

“Multitudes”

Feist abraça a solitude em “Multitudes”. Um respirar profundo da artista entre lançamentos mais enérgicos, um disco que tem contrastes fortes, e consegue brilhar nos altos e baixos, nos claros e escuros.

Multitudes é produzido com maestria, e possui o charme de saber que precisa de múltiplas audições. Como o próprio título diz, Feist (e porque não, todos nós) somos inúmeras versões de nós mesmos. A única forma de chegar um pouco mais perto de desvelarmos a verdade, é aceitando que ela não é uma só.

Amanda Machado


7

Paramore

“This is why”

O Paramore segue dilacerando o etarismo em “This Is Why”. Não que essa seja uma banda de veteranos, eles ainda estão longe disso, mas são uma banda com uma carreira já considerável, onde seria esperado, a essa altura do campeonato, um estilo mais calmo, ponderado.

Não para Hayley f#cking Williams e os garotos. A faixa título é a abertura mais forte de toda a discografia da banda, deixando claro que eles não estão aqui para brincadeira ou para esconder o que querem dizer. Hayley tem a caneta pesada nesse disco, assinando algumas de suas faixas mais inventivas, como a irônica e niilista “Running Out of Time” ou a melancólica “Liar”.

Um disco direto ao ponto, que mistura energia e fragilidade de maneira que só o Paramore sabe fazer.

Pietro Stefani


6

Kyan e mu540

“um quebrada inteligente”

Direto da baixada santista, a super dupla Kyan e Mu540 trouxe mais uma vez o que há de melhor no funk e no trap nacional. Numa época em que o funk parece estar sendo substituído por batidas sem graça feitas para viralizar, “UM Quebrada Inteligente” oferece um caminho alternativo, os beats nervosos de Mu540 misturam elementos de várias gerações de funkeiros e ganham vida na voz única de Kyan, que rasga cada faixa ao meio.

Os dois nos fazem viajar em poucos minutos do tamborzão furação 2000 de “brinks” até a ostentação de “gucci con tacchini!”, uma jornada pela história do mais importante gênero brasileiro nesse século. Se o quebrada inteligente é ter talento e sagacidade, as rimas de Kyan são a quebrada inteligente e fazem desse um dos melhores álbuns de 2023.

João Francisco


5

black country new road

“live at bush hall”

Ninguém pode copiar o que Black Country, New Road faz hoje. Foram 3 álbuns em 3 anos, onde a reinvenção artística sempre é almejada (e alcançada), porém atrelada a um senso de déjà vu que nunca se concretiza forte o suficiente para se tornar algo repetitivo. Chega a ser difícil de explicar e por isso é mágico. Pela terceira vez consecutiva, BC, NR faz um álbum igual, porém diferente. Tudo que amamos sobre o som da banda está aqui, mas de uma maneira completamente reinventada.

Não temos um novo vocalista preponderante (embora Tyler Hyde cante mais músicas que os outros durante os 50 minutos de show). Ela, Lewis Evans e May Kershaw brilham de maneira sui generis, se complementando através da diversidade. A unicidade do todo surge justamente através de sua consolidada identidade sonora: Não importa se é a teatral “The Boy”, com seus elementos de Klezmer que parece o filho de “The Bird” de Regina Spektor com o filme “A Balada de Buster Scruggs” dos Irmãos Cohen; se é a incrível “I Wont Always Love You”, que até a ponte parece importada de um conto de princesas animado da Disney na década de 90; ou da charmosa e vulnerável “Across The Pond Friend”, portadora de uma ingenuidade inerente que reside na voz de Lewis Evans: No fim do dia, todas carregam consigo a assinatura da banda.

Se Ants From Up There foi de certa maneira uma carta de despedida de Isaac, Live at Bush Hill é uma declaração de amor com nuances de saudade do que ficou pra trás, misturados a momentos de gratidão por tudo que viveram até aquele presente momento. Tudo sobre o futuro da banda se molda nos acontecimentos do último ano, e não poderia ser diferente.

Pietro Stefani


4

Caroline polachek

“desire, I want to turn into you”

O segundo álbum de Polachek escancara o quanto ela não é uma novata na carreira musical. Conceitualmente bem amarrado, inventivo e expansivo, cheio de referências ao fim dos anos 90 e início do Y2K, com participações que apenas ela poderia compor, como Grimes e Dido na mesma faixa.

É impressionante o quão perceptível é o desejo de Polachek de mover o pop para frente. Uma vocalista excepcional, que usa de sua interpretação como apenas +1 artifício fantástico ao construir uma narrativa. Conceito bem amarrado, arranjos inventivos, composições imaculadas, produção e engenharia de som irretocáveis.

“Desire, I Want to Turn Into You” não é tão abstrato quanto “Pang”, e não deseja ser. É sua própria viagem de metrô, intensa, coberta de sonhos e medos, mas que não para. Por absolutamente nada.

Bernardo Liz


3

mitski

“the land is inhospitable and so are we”

Logo após o conflitante “Laurel Hell”, onde Mitski reflete seu amor e ódio para com a indústria musical, ela parece ter retomado gosto pelo trabalho.

“The Land Is Inhospitable And So Are We” encontra a artista em contato pleno com suas raízes estéticas, e com sua compositora mais devota.

Um álbum com dinâmica ímpar para tempos de super compressão como os que vivemos, reflete a intensidade de cada uma das faixas. O volume oscila, porque o coração oscila. Uma das artistas mais completas e entregues a própria voz da sua geração, é impossível dizer qual é o melhor álbum de Mitski.

Ela é sempre ela, mas reinventa o prisma pelo qual observamos sua performance a cada álbum. Essa performance é um presente, para nós, espectadores, mas para ela, parece ser uma necessidade. Nesse disco, mais do que nunca.

Bernardo Liz


2

sufjan stevens

“javelin”

Sufjan Stevens já demonstrou diversas vezes ao longo de sua carreira a capacidade que tem de tocar o coração do ouvinte com suas composições, mas “Javelin” atinge um novo pico após anos mais distante da introspecção em seus projetos solo.

“Javelin” apresenta Sufjan novamente próximo de suas raízes folk, mas fazendo uso extremamente inteligente e assertivo da sua aproximação com os sintetizadores a música eletrônica, que ocorreu nos últimos anos. É um disco exuberante. A dor e a franqueza emocional presentes em “Carrie & Lowell” encontram a expansão dos sentimentos via potência de arranjos presentes em “A Begginer’s Mind” e “The Ascension”.

Refletindo sobre a perda do seu parceiro, Sufjan entrega alguma das faixas mais sensíveis de sua carreira. É difícil sequer escrever sobre esse disco, relembrando alguns versos, sem marejar os olhos. Sufjan fala de melancolia, dor, luto, de um jeito muito particular. Em um universo paralelo, eu aposto, ele nunca lançou suas músicas; elas nunca viram o público — tamanha é a honestidade com a qual ele se entrega a cada composição. “Javelin” talvez seja o maior testemunho disso.

Bernardo Liz


1

Lana del rey

“did you know that there’s a tunnel under ocean blvd”

Como é gratificante testemunhar a evolução de um talento. Desde o início de sua carreira, Lana consistentemente melhora. Quando “Norman fucking Rockwell!” tomou o mundo, parte de mim, fã de longuíssima data, se perguntou se esse seria o melhor trabalho de sua carreira.

Para minha adorável surpresa, a resposta é um sonoro não.

Após mais dois discos com propostas bem diferentes e que carregavam destaques potentes “Chemtrails Over the Country Club” e “Blue Banisters”, lançados no mesmo ano, expondo um grande pico de produção artística, a artista se recolheu, e o tempo de trabalho mais longo até lançar seu próximo álbum foi claramente bem utilizado.

Denso, profundo, belo e completamente despreocupado com qualquer apelo comercial, o nono álbum de Lana Del Rey parece a realização de uma ideia que a artista quer executar há tempos. “Did you know that there’s a tunnel under ocean blvd” é Lana Del Rey, e é Elizabeth Grant. A persona artística divide o palco com a filha, a irmã, a amiga. Aquela que já foi tão mal compreendida, vezes por falha na emissão, vezes por falha na recepção. Aquela cujos amores destruidores se tornaram mais uma commodity do que um item de alto valor agregado. Lana parece estar vendo o mundo de cima, mais do que nunca, mas sem perder o afeto e a empatia pelo caos que ocorre aqui em baixo.

Talvez aqui estejam as melhores performances vocais de sua carreira, e algumas de suas melhores composições também. Não há uma faixa ruim, e os destaques como “A&W”, “Kintsugi”, “Let The Light In” e “Margaret” são picos em uma carreira já recheada de pontos altos.

A comparação com vinho não será feita, mas é uma piadoca pronta que não aceita mais qualquer objeção: parece que, com o tempo, Lana Del Rey só melhora.

Bernardo Liz


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